Bom, para situar a todos, esse é o maior clássico de Asimov. Inclusive foi eleito pelo prêmio Hugo como a melhor série de ficção científica e fantasia de todos os tempos, superando - pasmem- O Senhor dos Anéis. Não procurem entender. Um verdadeiro disparate.
Um dos problemas de Fundação é que, como todo escritor que pretende escrever sua obra máxima (a trilogia original levou quase dez anos para ser escrita), Asimov colocou o máximo possível dele no livro, ou seja, suas características pessoais estão bem acentuadas em toda a história. Para quem não sabe, ele era judeu de nascimento, mas ateu convicto. E justamente essa panfletagem prejudica a obra. Antes que alguém me avise que se ele fosse católico eu não reclamaria desse aspecto, aviso que não estou negando o direito dele fazer isso. Acho naturalíssimo. O que não me impede de negativar o livro não por ele ter feito isso em si, mas porque o ateísmo é tão pobre que não consegue sustentar a lógica do enredo.
A civilização de Asimov é anti-natural. Primeiramente ele parte do pressuposto de que é necessária uma religião no início da decadência (uns cem anos, dos mil que ele pretende usar para reconstruir um novo império). Como a maior parte dos ateus, acha que todas elas são iguais, portanto ele cria a religião científica, nas palavras dele: “a religião que funciona.”
Ela é basicamente o seguinte: disfarça acontecimentos científicos com “teologia”, já que alguns planetas são tão ignorantes a ponto de não entenderem experimentos básicos da ciência, os tomando por “magia” ou “milagres”.
O que me admira é que existam civilizações tão bárbaras a ponto de desconhecerem aspectos básicos do saber humano, agindo como se fossem tribos indígenas do século XV/XVI e ao mesmo tempo sejam esses mesmos humanos que conseguiram, apesar dessa ignorância crassa, expandirem sua civilização por vários mundos galáxia afora. Adeus lógica, coerência e verossimilhança.
Mas quando se quer vender uma ideologia não interessa tanto a verdade, mas sim adequar as situações ao que a pessoa pensa.
Bom, mas enfim, depois desses breves anos iniciais, a Fundação resolve que não precisa mais desse subterfúgio e resolve abolir de vez qualquer sistema religioso, visto que não é mais necessário nenhum tipo de crença para fazer a sociedade funcionar, contrariando o que (inacreditavelmente) disse Napoleão Bonaparte: “Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola.”
Na verdade, a visão de Asimov é extremamente materialista (realmente, dispensarei piadas entre judeus e dinheiro, se for possível). A segunda etapa do motor que move a Fundação, o novo alicerce no qual o império asimoviano será fundado, substituindo a coluna religiosa, acreditem em mim, crianças, é nada mais nada menos que o livre comércio. Sim, nosso amado Asimov é ingênuo a esse ponto. Ele acha que o comércio, por si só, é capaz de regular relações humanas e conter possíveis excessos, embora eu assine com meu sangue o que falarei a seguir: não existe dinheiro algum no mundo que faça uma pessoa deixar de cometer certo ato sexual (isto eu cito apenas a título de exemplo, para provar que nem tudo pode ser estancado por esse fator tão simples). Dê o dinheiro a um homossexual, por exemplo, prometa a ele todo o ouro da Terra em troca do celibato, e mesmo que ele queira, não conseguirá. O que não se consegue por virtude, não é possível por nenhum outro meio. Assino não só com meu sangue, mas ponho toda minha alma nesse parágrafo e até o que tenho de mais precioso: a minha fé.
Evidentemente, nem de longe esses são os únicos problemas com Fundação. A própria escrita é rasa e superficial, e até pela forma como é narrada a história, não tem como aprofundar psicologicamente os personagens (vários anos se passam entre um capítulo e outro, mudando boa parte dos protagonistas). Claramente é um cientista contando uma saga, não um escritor. Se você não se incomoda com isso e sabe que vai ler literatura menor, menos mal para o seu psicológico.
Não me importo nem um pouco com a praticamente nula presença de mulheres na trama, isso não é indicativa de qualidade em obra literária alguma. Portanto não houve nenhuma estrela a menos só por causa desse fator, que pra mim é irrelevante. O que prezo é a boa qualidade da escrita e isso é possível mesmo que no enredo tenham apenas personagens homens ou mulheres, embora evidentemente saber escrever personagens variados e diferentes entre si com eficiência é uma característica possível apenas ao bom escritor. No caso de Asimov,os personagens foram muito unidimensionais, embora fossem homens diferentes, a personalidade era sempre a mesma, com poucas características próprias.
E não dá pra fugir da onipresente figura do Messias, seja você ateu ou cristão. Sempre haverá a necessidade de um homem para guiar a humanidade. Se não for o Homem-Deus, será o homem-homem. Mas disso não podemos fugir e Asimov o prova, fazendo Hari Seldon onipresente durante todo o volume, pois isso é muito forte em nossa raça. Não dá pra apagar.
Não existe essa de ciência neutra e imparcial, quando o ser humano que a guia é parcial e possuído de paixões. Só uma instituição divina consegue sobreviver APESAR das paixões desregradas dos homens. Esse ponto do livro me pareceu aquelas histórias antigas de Quinta Dimensão/Além da Imaginação, onde o personagem faz de tudo para mudar um acontecimento viajando ao passado, mas tudo acontece exatamente como devia ocorrer, ad aeternum.
Finalizando, pretendo até ler os seguintes volumes da trilogia, visto que tem na biblioteca onde sou afiliada, então não me custará nada para conseguir terminá-la. Mas definitivamente não estou com pressa para isso, ainda mais pela enorme quantidade de livros bons que tenho na minha lista de leitura.