segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

"Fundação" de Isaac Asimov não é um livo indispensável




Bom, para situar a todos, esse é o maior clássico de Asimov. Inclusive foi eleito pelo prêmio Hugo como a melhor série de ficção científica e fantasia de todos os tempos, superando - pasmem- O Senhor dos Anéis. Não procurem entender. Um verdadeiro disparate.

Um dos problemas de Fundação é que, como todo escritor que pretende escrever sua obra máxima (a trilogia original levou quase dez anos para ser escrita), Asimov colocou o máximo possível dele no livro, ou seja, suas características pessoais estão bem acentuadas em toda a história. Para quem não sabe, ele era judeu de nascimento, mas ateu convicto. E justamente essa panfletagem prejudica a obra. Antes que alguém me avise que se ele fosse católico eu não reclamaria desse aspecto, aviso que não estou negando o direito dele fazer isso. Acho naturalíssimo. O que não me impede de negativar o livro não por ele ter feito isso em si, mas porque o ateísmo é tão pobre que não consegue sustentar a lógica do enredo.

A civilização de Asimov é anti-natural. Primeiramente ele parte do pressuposto de que é necessária uma religião no início da decadência (uns cem anos, dos mil que ele pretende usar para reconstruir um novo império). Como a maior parte dos ateus, acha que todas elas são iguais, portanto ele cria a religião científica, nas palavras dele: “a religião que funciona.”

Ela é basicamente o seguinte: disfarça acontecimentos científicos com “teologia”, já que alguns planetas são tão ignorantes a ponto de não entenderem experimentos básicos da ciência, os tomando por “magia” ou “milagres”. 
O que me admira é que existam civilizações tão bárbaras a ponto de desconhecerem aspectos básicos do saber humano, agindo como se fossem tribos indígenas do século XV/XVI e ao mesmo tempo sejam esses mesmos humanos que conseguiram, apesar dessa ignorância crassa, expandirem sua civilização por vários mundos galáxia afora. Adeus lógica, coerência e verossimilhança.
Mas quando se quer vender uma ideologia não interessa tanto a verdade, mas sim adequar as situações ao que a pessoa pensa.
Bom, mas enfim, depois desses breves anos iniciais, a Fundação resolve que não precisa mais desse subterfúgio e resolve abolir de vez qualquer sistema religioso, visto que não é mais necessário nenhum tipo de crença para fazer a sociedade funcionar, contrariando o que (inacreditavelmente) disse Napoleão Bonaparte: “Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola.”
Na verdade, a visão de Asimov é extremamente materialista (realmente, dispensarei piadas entre judeus e dinheiro, se for possível). A segunda etapa do motor que move a Fundação, o novo alicerce no qual o império asimoviano será fundado, substituindo a coluna religiosa, acreditem em mim, crianças, é nada mais nada menos que o livre comércio. Sim, nosso amado Asimov é ingênuo a esse ponto. Ele acha que o comércio, por si só, é capaz de regular relações humanas e conter possíveis excessos, embora eu assine com meu sangue o que falarei a seguir: não existe dinheiro algum no mundo que faça uma pessoa deixar de cometer certo ato sexual (isto eu cito apenas a título de exemplo, para provar que nem tudo pode ser estancado por esse fator tão simples). Dê o dinheiro a um homossexual, por exemplo, prometa a ele todo o ouro da Terra em troca do celibato, e mesmo que ele queira, não conseguirá. O que não se consegue por virtude, não é possível por nenhum outro meio. Assino não só com meu sangue, mas ponho toda minha alma nesse parágrafo e até o que tenho de mais precioso: a minha fé.
Evidentemente, nem de longe esses são os únicos problemas com Fundação. A própria escrita é rasa e superficial, e até pela forma como é narrada a história, não tem como aprofundar psicologicamente os personagens (vários anos se passam entre um capítulo e outro, mudando boa parte dos protagonistas). Claramente é um cientista contando uma saga, não um escritor. Se você não se incomoda com isso e sabe que vai ler literatura menor, menos mal para o seu psicológico. 
Não me importo nem um pouco com a praticamente nula presença de mulheres na trama, isso não é indicativa de qualidade em obra literária alguma. Portanto não houve nenhuma estrela a menos só por causa desse fator, que pra mim é irrelevante. O que prezo é a boa qualidade da escrita e isso é possível mesmo que no enredo tenham apenas personagens homens ou mulheres, embora evidentemente saber escrever personagens variados e diferentes entre si com eficiência é uma característica possível apenas ao bom escritor. No caso de Asimov,os personagens foram muito unidimensionais, embora fossem homens diferentes, a personalidade era sempre a mesma, com poucas características próprias.
E não dá pra fugir da onipresente figura do Messias, seja você ateu ou cristão. Sempre haverá a necessidade de um homem para guiar a humanidade. Se não for o Homem-Deus, será o homem-homem. Mas disso não podemos fugir e Asimov o prova, fazendo Hari Seldon onipresente durante todo o volume, pois isso é muito forte em nossa raça. Não dá pra apagar.
Não existe essa de ciência neutra e imparcial, quando o ser humano que a guia é parcial e possuído de paixões. Só uma instituição divina consegue sobreviver APESAR das paixões desregradas dos homens. Esse ponto do livro me pareceu aquelas histórias antigas de Quinta Dimensão/Além da Imaginação, onde o personagem faz de tudo para mudar um acontecimento viajando ao passado, mas tudo acontece exatamente como devia ocorrer, ad aeternum.
Finalizando, pretendo até ler os seguintes volumes da trilogia, visto que tem na biblioteca onde sou afiliada, então não me custará nada para conseguir terminá-la. Mas definitivamente não estou com pressa para isso, ainda mais pela enorme quantidade de livros bons que tenho na minha lista de leitura.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O Povo contra Larry Flynt - ou seria Larry Flynt contra Jesus Cristo?

Ele só queria a liberdade de expressão para todos...mas será mesmo?

Há muitos anos atrás, quando eu era adolescente e atéia, assisti ao filme "O Povo contra Larry Flynt." Apesar de sempre odiar pornografia, mesmo antes da minha conversão ao Catolicismo, como todos que estão no mundo eu tinha um conceito totalmente descabido do que é liberdade de expressão, ou ao menos a punha na cátedra máxima dos direitos do homem. Então obviamente achei o máximo essa produção cinematográfica. 
Hoje, analisando não apenas o filme, mas o próprio Larry Flynt que o inspirou, minha opinião mudou radicalmente. É muito mais lúcida.
Lembro-me de uma cena em específico no filme, onde a "modelo" pornográfica posava para uma foto que seria publicada na próxima revista, ela estava de roupa íntima (ou nua, não me lembro bem) com um rosário na mão. Claro que como uma pessoa que achava a religião o símbolo máximo da alienação e lavagem cerebral, eu não conseguia ver nada de errado naquilo. Para mim, o rosário era apenas um objeto, nada mais. Não entendia de modo nenhum o motivo da polêmica que esse ato da Hustler (o nome da revista pornográfica) gerou entre os religiosos. Que isso inclusive sirva de alerta. Eu era uma pessoa "normal", não muito mais intolerante ou tolerante que qualquer um que está no mundo. E como a imensa maioria da manada que está aí fora, o completo desrespeito e tratamento de segunda classe aos cristãos era uma atitude perfeitamente natural, sem merecer ao menos pausa para nenhum tipo de reflexão a respeito.
Um pôster de merchandising do filme que hoje em dia me causa náuseas, do qual minha mente nem ao menos registrou na época ( na verdade me lembrei dele fazendo uma pesquisa hoje sobre o filme para fazer essa crítica e lembrar de alguns pontos): o cartaz mostra a foto do Woddy Harrelson, ator que dá vida ao personagem-título "crucificado", onde a Cruz é a parte íntima de uma mulher. Fico surpresa inicialmente que nenhuma luz de alerta tenha se acendido na minha cabeça naquele tempo, mas não devo me chocar. Fora de Cristo, o pudor não existe.
Evidentemente, o filme faz do pornógrafo um verdadeiro herói, mártir, que teve a vida pessoal destruída para nos legar o direito de podermos falar o que quisermos. O mundo diga o que quiser, vamos deixar então a realidade falar a "versão" dela. Essa idéia falsa e romantizada que repete em um looping infinito a frase de Voltaire, que na verdade é da biógrafa dele ("Posso não concordar com o que diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo"), não encontra eco na prática. Nenhum homem é uma ilha. Tudo o que você faz ou fala gera impacto na sociedade. O mesmo mundo que diz que simples fotos de mulheres nuas (como se fosse "apenas" isso) não prejudicam ninguém é o mesmo mundo que diz "uma caneta mata mais que uma arma". É nesse mundo contraditório em quem você vai confiar? Se a mentira e a baixeza tiverem os mesmos direitos que a verdade e a virtude, o que acontece é que as duas primeiras acabam tendo muito mais vantagens que as duas últimas. Pois aquelas são muito mais velozes do que estas em se tratando de correr o mundo e causar estragos , dadas igualdades de condições. 
Dar voz a alguém que sistematicamente ataca os fundamentos morais que construíram a própria sociedade em que vive é o mesmo que dar direitos a alguém que mora em uma casa de destruir os alicerces da mesma, apesar de várias outras pessoas também dividirem a moradia com esse alguém. É suicídio.
Em um mundo onde todos ficam ofendidos com tudo, parece que os religiosos são os únicos a quem é negado esse direito. Então eu devo achar extremamente normal e corriqueiro o fato dessa revista publicar periodicamente fotos atacando a minha religião, da forma mais grotesca possível? Ora, é ser completamente insensível e não entender como a alma humana funciona. "Não quer ver, não compre", dirão uns. Diriam isso de publicações racistas também? Além disso, como se ver blasfêmias dependesse de comprar ou não a revista. E como se eu não me importasse se meu pai for aviltado, desde que não chegue aos meus olhos. Pensar assim é irracional. Viram como na verdade é o mundo quem aliena e não a religião?
Uma das partes mais hipócritas do filme é no discurso de Larry Flynt comparando a obscenidade da pornografia com a "obscenidade" da guerra. Desde quando é vergonhoso e embaraçoso se sacrificar por aqueles que você ama, como fazem os soldados? Desde quando vender mulheres nuas em posições abjetas é "vender amor"? Só na sociedade de hoje, onde tudo é permitido, desde que seja moralmente degradante.
Se Larry Flynt fosse tão obstinado em defender a própria salvação como defendeu a revista (e seus milhões de dólares- ou você acha mesmo que era com a liberdade de expressão que ele estava preocupado?), já estava canonizado em vida. Mas ainda há tempo para ele. Rezemos em Cristo.